Era para ser definitivo

Era para ser definitivo

Publicado no Jornal Correio Popular de 20/04/19, p.A2

 

Propagandas são feitas para gerar convencimento de que o produto ao qual está relacionado é, de fato, a solução definitiva de seus problemas. Shampoo que acaba com caspa, em definitivo; inseticidas que exterminam os intrusos de sua casa, em definitivo; o carro que vai lhe dar o conforto e a apresentação que sempre quis diante dos outros, em definitivo; o curso de idiomas que rapidamente o fará fluente, em definitivo… Enfim, mesmo sabendo que não será definitivo, há muita gente que continua se deixando levar pelas ilusões não definitivas.

A Páscoa de Cristo não precisa de propaganda. A ressurreição de Cristo também não. Mas estas realidades que verdadeiramente são definitivas, o ser humano as tem tornado passageiras. Progressivamente vemos os valores inversos em tantos princípios, e até mesmo no que diz respeito à crença cristã relevado a um mero feriado para aproveitamento comercial como os demais dias de descanso.

A maior nação cristã do mundo não está sabendo valorizar e viver seu cristianismo, porque a história do Cristo não está sendo vivida. Os conflitos, os desentendimentos, o desrespeito, a violência, a miséria e tantas outras desgraças que infelizmente vemos ao redor – correndo o risco até de acostumar-nos a elas – mostram que as palavras de Cristo não fizeram diferença para tantos que as ouvem. Então fica apenas no campo do estético a denominação de nação cristã, porque na prática não se vê a obra de Cristo em muita gente.

A morte de Cristo é a proposta definitiva – essa sim – de Deus para reconciliação do homem com o Criador. E quando isso acontece, a reconciliação entre os homens também acontece. Enquanto alguém continua lutando contra Deus, estará lutando também contra si mesmo e nunca chegará à paz interior. Daí também não haverá paz nas relações horizontais, quando a vertical está rompida. A ressurreição de Cristo, sobrepor a morte e nada conseguir detê-lo é a confirmação que não há nada possível de diminuir quem Deus é ou faz.

Por isso os eventos dos dias da Páscoa não podem ser meras ocasiões festivas, porém vazias. Observe quantas histórias de pessoas da convivência constante podem testemunhar que no momento que voltaram-se em definitivo para Deus puderam ter paz de espírito, consciência tranquila, reconciliação familiar, perdão das ofensas, libertação de vícios, entendimento com filhos, não mais prazer na corrupção… Tudo começou quando foi entendido que a morte de Cristo era para que Ele levasse sobre si nossas iniquidades e enfermidades, físicas e da alma.

Que vida confusa e tensa de quem tem seus dias na preocupação quanto às coisas não definitivas. O escritor David DeWitt dizia que “não há nenhum valor na preocupação. Não faz nada de bom para nós. Uma pessoa normal concentra sua ansiedade ou preocupação: 40% em coisas que não vão acontecer nunca, 30% em coisas do passado que não podem ser mudadas, 12% nas críticas de outras pessoas (na maior parte injustas), 10% sobre saúde (e que piora com o estresse) e apenas 8% sobre problemas reais que precisam ser enfrentados.” O pregador Charles H. Spurgeon ensinava: “Tais criaturas estranhas somos nós que provavelmente sofremos mais sob as calamidades que nunca se abatem sobre nós do que sob aquelas que realmente se abatem”. O cristianismo ensinado por Cristo não é teoria de fé, mas a vivência de Cristo por onde for.

Então, definitivamente, é a partir de um encontro com este Cristo ressuscitado e não mais morto e deixado na cruz que o eixo e o centro voltam ao coração. O profeta Isaías, muito tempo antes do próprio Jesus vir ao mundo, afirmava que “o castigo que nos traz a paz estava sobre e pelas suas pisaduras fomos sarados”. Em outras palavras, Ele recebeu o ódio, a injustiça, a maldade que deveriam vir sobre os homens pecadores. E porque isso aconteceu, somos agraciados com paz. Mas foi de uma vez por todas, uma morte só.

Propagandas também falam de garantias. A Páscoa e a ressurreição de Cristo, além de não precisarem de propaganda, trazem Nele mesmo a garantia. Afinal, suas palavras são taxativas: quem crê em mim, tem a vida eterna. Não é o olhar inconsequente das coisas que ainda haverão de vir, mas o exercício diário da vida em paz, interna e compartilhável. Definitivamente.

 

Rev. Carlos Eduardo

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